Bar Brahma, 19h15, terça-feira. Um convite pra beber com uma amiga, e descubro a possibilidade de um ícone. Não que eu seja uma fã propriamente dita, mas confesso que a curiosidade sempre me fez desejar assistir a um de seus shows. Um showman, um crooner brilhante, um ícone: palavra que se encaixa perfeitamente àquele a que vou assistir esta noite.
Enquanto espero minha amiga, o pianista toca Beatles, uma escolha fantasticamente apropriada, já que foi essa amiga - fã incondicional dos meninos de Liverpool - quem me apresentou aos ingleses nos idos dos 80.
Ansiedade. Eu costumava brincar que não podia morrer sem assistir a um show do Cauby Peixoto. Podem dizer o que quiserem, que é brega, que está ultrapassado, que sua peruca e seu terno de strass vermelho são ridículos. Tudo se transforma em pó quando o niteroiense (adjetivo horrível!) abre a boca e solta sua voz de timbre grave e aveludado.
Eu ficava imaginando “onde esse homem canta? Provavelmente no Rio...” Cheguei a imaginar um programa de fim-de-semana, avião, hotel, show no Canecão, hotel, avião... mas não foi possível. O tempo passou e hoje estou aqui, à espera. É estranho pensar que planejei este encontro em dois diferentes momentos de minha vida e não deu certo... Sozinha, espero pelo ídolo. Não importa. Talvez esse deva ser um instante só meu mesmo, meu e do Cauby, sem fotos, sem registros, sem testemunhas. Apenas um antigo desejo que insistiu em não ir embora.
Silêncio no piano, palmas. Ele toma o espetáculo e eu me calo para ouvi-lo.
(texto antigo... ando arrumando gavetas...)
9 de dez. de 2008
1 de dez. de 2008
Delonga
Às vezes sinto saudades da escrita. Acariciar palavras, embaralhá-las, sentir nas mãos sua textura. Noutras, sinto saudades do tempo, seu contar de horas caminhando lentas, delongadas uma após a outra. Há vezes, ainda, em que sinto saudades de uma areia viscosa e densa a tocar-me os pés e roçar-me o corpo, trazida grão a grão pelo vento quente. Saudades de ler Rimbaud e, boêmio, ter com ele. Versos de amor infinito a invadir a alma.
Emaranhada em novelos de palavras, me desfaço tempo, areia, saudade.
Emaranhada em novelos de palavras, me desfaço tempo, areia, saudade.
16 de out. de 2008
Dia do professor
Ontem foi o dia do professor e enviei um email para alguns professores queridos com um trecho lindíssimo retirado do "Aula", do Barthes, em que ele diz assim:
"Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se sabe: isso se chama pesquisar. Vem talvez agora a idade de uma outra experiência, a de desaprender, de deixar trabalhar o remanejamento imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentãção dos saberes, das culturas, das crenças que atravessamos. Essa experiência tem, creio eu, um nome ilustre e fora de moda, que ousarei tomar aqui sem complexo, na própria encruzilhada de sua etimologia: Sapientia: nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria, e o máximo de sabor possível".
Recebi várias respostas e uma, particularmente, me tocou muito, pois veio de uma mestra por quem tenho um enorme respeito. Ela terminou dizendo "você é uma professora". E eu achei isso um elogio tão bonito...
Tenho tentado realmente me tornar uma professora desde que deixei de ser bancária. É uma tarefa às vezes bastante difícil, principalmente porque eu não tenho mais 20 anos, mas eu adoro. É claro que há momentos em que você quer sumir do mapa, mas eles passam. No início desse ano, por exemplo, aceitei trabalhar numa escola que me pareceu bem legal, mas aos poucos foi se revelando um tormento. Diretor e orientador pedagógico passando em frente à sua sala de aula e perguntando umas 5 vezes por dia "tudo bem aí?" era pouco. Era só falar alguma coisa diferente com um aluno que eu já sabia que no dia seguinte ia "dar salinha". Às segundas-feiras eu tinha uma aula vaga e era batata! "Lina, compareça à minha sala, por favor... O aluno fulano de tal disse que você deu uma nota baixa pra ele, podemos conversar?" E lá se ia a aula vaga toda com as minhas justificativas. No primeiro semestre ainda deu pra levar, mas a volta das férias de julho tornou-se um martírio. Tudo o que eu falava ou fazia era motivo pra reunião. Em contrapartida, nos encontros com a coordenadora de Português tudo parecia normal: "Não dê atenção", "Mantenha a calma...", "Você está certa, é isso mesmo...", "Seu trabalho está ótimo...".
Um belo dia, eu chego pra ela e digo que vou pedir demissão. "Não faça isso, estamos no meio do ano, teremos problemas pra encontrar outra pessoa agora..." Eu digo que não tem problema, fico até que encontrem essa outra pessoa e ela responde "mas isso será péssimo para seu currículo". Marinheira de quase primeira viagem, decido ouvir, então, a voz da experiência e ficar. Dez dias depois, com a graça de Deus, eles me mandam embora.
Sem entender direito, me pergunto: "que diabos foi isso, se eu pedi demissão outro dia e eles não aceitaram?"
Melhor assim. Ética profissional a gente não encontra mesmo em qualquer material didático, por mais bonita que possa parecer a capa.
Agora que já se passou algum tempo, eu me lembro das palavras da coordenadora (de que meu trabalho era ótimo, isso ia sujar meu currículo, blá, blá, blá...) e, parafraseando uma amiga, pergunto: "e quem disse pra você que eu vou colocar essa escola horrorosa no meu currículo?"
6 de out. de 2008
Mais um verão
Gosto muito desse moço. E de suas canções, claro. Sempre gostei. Houve uma época em que não tinha dinheiro pra comprar seus discos e ficava correndo os sebos do centro da cidade atrás de um LP usado. Era um tempo de pouca grana, mas de muitos sonhos e eu sabia de cor todas as suas canções que me levavam pra um lugar distante, que eu nem sabia direito onde era, mas preenchia meu desejo de uma vida longe de São Paulo.
Sábado fui assistir a seu show no Credicard Hall e pude relembrar desse tempo em que, entre outras coisas, eu tinha tempo pra cantar e até pra me arriscar a compor algumas canções que falavam de terra, mato e esperança de um dia sumir daqui. Eu tinha, então, 20 anos, todo o tempo do mundo e sabia quem eu era e o que eu queria. É claro que não saí de São Paulo, casei, separei, parei de cantar, me atolei no trabalho e me esqueci de tudo aquilo, inclusive de que eu gostava tanto desse moço. E de suas canções, claro.
Saí do show desse caboclo lindo (que agora usa óculos) sob chuva forte, com 2 CDs que eu ainda não tinha e que a Juju me deu, e determinada a não passar mais um verão sem me lembrar de todas essas coisas de que, de verdade, tanto gosto.
Essa canção (que na gravação original tem a belíssima 2ª voz de Alzira Espíndola) ele não cantou, mas eu adoro.
Mais um verão
Já lá se vai a sumir
Por entre os dedos da minha mão
E nada guardei pra mim
E a geração
Que a tudo fez consumir
Volta a temer profecias
De astros em conjunção
Será que chegou o fim?
Por moedas de ouro e prata
Quanta gente ainda se mata, ai, ai
Eta velho mundo louco
Quer se destruir
Aconteça pois assim
Mais um verão
E só me resta fingir
Ir ao castelo da ilusão
Sonhando ser Aladim
Poder então
Por tudo me repartir
Ser como as folhas de outono
Num vento sem direção
Dormir em qualquer jardim
Aflição nem vou mais sentir
Se o segredo é se divertir, ai, ai
Eta velho mundo louco
Não quer mais sorrir
Entristeça, pois, enfim
Mais um verão
Já lá se vai a sumir
Por entre os dedos da minha mão
E nada guardei pra mim
(Mais um verão - Almir Sater e Paulo Simões)
Sábado fui assistir a seu show no Credicard Hall e pude relembrar desse tempo em que, entre outras coisas, eu tinha tempo pra cantar e até pra me arriscar a compor algumas canções que falavam de terra, mato e esperança de um dia sumir daqui. Eu tinha, então, 20 anos, todo o tempo do mundo e sabia quem eu era e o que eu queria. É claro que não saí de São Paulo, casei, separei, parei de cantar, me atolei no trabalho e me esqueci de tudo aquilo, inclusive de que eu gostava tanto desse moço. E de suas canções, claro.
Saí do show desse caboclo lindo (que agora usa óculos) sob chuva forte, com 2 CDs que eu ainda não tinha e que a Juju me deu, e determinada a não passar mais um verão sem me lembrar de todas essas coisas de que, de verdade, tanto gosto.
Essa canção (que na gravação original tem a belíssima 2ª voz de Alzira Espíndola) ele não cantou, mas eu adoro.
Mais um verão
Já lá se vai a sumir
Por entre os dedos da minha mão
E nada guardei pra mim
E a geração
Que a tudo fez consumir
Volta a temer profecias
De astros em conjunção
Será que chegou o fim?
Por moedas de ouro e prata
Quanta gente ainda se mata, ai, ai
Eta velho mundo louco
Quer se destruir
Aconteça pois assim
Mais um verão
E só me resta fingir
Ir ao castelo da ilusão
Sonhando ser Aladim
Poder então
Por tudo me repartir
Ser como as folhas de outono
Num vento sem direção
Dormir em qualquer jardim
Aflição nem vou mais sentir
Se o segredo é se divertir, ai, ai
Eta velho mundo louco
Não quer mais sorrir
Entristeça, pois, enfim
Mais um verão
Já lá se vai a sumir
Por entre os dedos da minha mão
E nada guardei pra mim
(Mais um verão - Almir Sater e Paulo Simões)
23 de set. de 2008
Não adianta vir com guaraná
E., a senhora gordinha que limpa a casa todas as 2as feiras, é a maior chocólatra que conheço. Não! O aposto (leia-se apôsto, com “o” fechado, aquele das aulas de português, lembra?) que melhor apresentaria E. aos poucos leitores que sobreviveram à longa ausência desta blogueira não é esse. É preciso começar de novo.
E., a maior chocólatra que conheço, é uma senhora gordinha que limpa a casa todas as 2as feiras. Eu também adoro chocolate e com a maioria das pessoas que conheço não é diferente, afinal, quem não adora chocolate? Agora mesmo, estou a bordo de um Hersheys meio amargo, não aquele delicioso com um leve toque de laranja, mas o meio amargo básico, escuro e amarguinho como qualquer outro de sua categoria.
Mas eu falava de E., a gordinha chocólatra, que às 2as feiras, religiosamente, limpa a casa. Pois bem. E. tem 40 anos, 3 filhos adultos, marido, casa pra cuidar, cachorro – Boris – com quem passeia à noite “lá em Ferraz”, referência ao município de Ferraz de Vasconcelos onde mora, mãe e pai que vivem numa casa construída no mesmo terreno. Toda 2a, sai de casa às 4 da manhã, pega ônibus, trem, metrô e ônibus de novo para – religiosamente – limpar a minha casa. Pelo trabalho de limpar muito bem a minha casa – e as outras, aonde vai - religiosamente - às 3as, 4as, 5as, 6as e sábados, E. recebe R$50,00 e, não!, ela não tem nenhum dia vago!
Mas estou aqui pra falar de sua chocolatrice e não de seu trabalho. Posso afirmar que E. é chocólatra por diversas razões. Certa vez, trouxemos um chocolate de Campos do Jordão pra Manu, sobrinha da Junia. Ele ficou uns dias na geladeira, pois estava muito calor e, numa 2ª feira, desapareceu misteriosamente da geladeira. Noutra ocasião, a Yanaí trouxe uns pacotinhos de um chocolate feito com puro cacau lá da Bahia e, coincidentemente numa 2ª feira, um deles desapareceu misteriosamente da geladeira. Isso aconteceu também com os suíços, os de São Lourenço, os de Caxambu, os da Argentina. Já aqueles de canela, figo e outros sabores irreconhecíveis que sobram na caixa de bombons “Garoto” ficam a vida toda lá, intocados....
Ontem, 2ª feira, eu estava batendo um papo com E. e ela me mostrou umas bolinhas que estão aparecendo em todo o seu corpo. Desesperada, confessou:
-- O médico me disse que é do chocolate, vou ter de ficar 2 meses sem comer, pra ver se desaparece...
Aí aproveitou e contou tudo. Que no trem, os Hersheys (os grandes) são vendidos a R$2,00 e que não dá pra resistir. Ela compra um todo dia e come inteirinho até chegar à estação de Ferraz e quando não tem muito dinheiro compra pelo menos um pedaço.
-- Hein? Um pedaço?
-- É, custa R$0,25 o quadradinho, eu não passo vontade, não!
Se esse Hersheys meio amargo que eu estou comendo neste exato momento custou R$4,00 no supermercado, que compra por atacado, direto da fábrica, como é que pode custar a metade disso no trem???? E que história é essa de comprar um quadradinho a R$0,25 só pra não passar vontade? Fala sério, quem inventou isso???!!!!!
Definitivamente, é muito difícil deixar de ser a chocólatra gordinha num país como esse...
25 de ago. de 2008
Pitanga
(...) Nunca ninguém soube. Não me arrependo: ladrão de rosas e de pitangas tem 100 anos de perdão. As pitangas, por exemplo, são elas mesmas que pedem para ser colhidas, em vez de amadurecer e morrer no galho, virgens.
LISPECTOR, Clarice. Cem anos de perdão. In: Felicidade Clandestina.Rio de Janeiro: ROCCO, 1998.
LISPECTOR, Clarice. Cem anos de perdão. In: Felicidade Clandestina.Rio de Janeiro: ROCCO, 1998.
29 de jul. de 2008
Os russos do avião
No vôo de ida, havia um moço russo sentado do meu lado. Quer dizer, eu acho que ele era russo porque falava uma língua muito estranha que resolvi que era parecida com o som do russo. Eu tive de pedir "licença" duas vezes pra ele: uma quando cheguei e outra quando precisei pegar um livro na minha bolsa que estava no compartimento de bagagens. Da primeira vez, como o vôo ia pra Argentina e ele tinha uma super cara de gringo, mandei um "con permiso" básico. Ele levantou e praguejou alguma coisa com um senhor que estava atrás dele. Imediatamente, um cara que estava na fileira da frente retrucou alguma coisa também em russo e os três engataram uma conversa que devia ser muito engraçada, cheia de R's e CH's e risadas. Aí eu pensei "por que diabos, se os 3 estão juntos, sentaram um atrás do outro na fileira do corredor?"
Assim que o avião decolou, eu percebi que havia deixado meu livro na bolsa e teria de incomodar o gringo de novo, mas ele já roncava. O russo mais velho estava no banco de trás e lia o "El Clarín". O da frente parecia ser mais novo e também roncava. Alguns minutos depois, começaram a servir comidinhas e a "azafata" chegou pra ele e perguntou em inglês "chicken or pasta?" Imediatamente ele olhou pro russo da retaguarda e falou qualquer coisa ininteligível que, traduzida, devia soar como "que aeromoça gostosa" porque o russo da frente começou a rir, depois o outro e por fim ele mesmo caiu na gargalhada. A pobre ficou ali com aquela carinha de kolynos esperando uma resposta e ele rindo. Eu já estava irritadíssima, tentando entender por que os caras riam tanto, quando ele, delicadamente, apontou pro frango. A moça serviu e se mandou rapidamente.
Depois que comemos, eu resolvi pegar o meu livro e mandei um "excuseme" já me levantando, pra garantir que ele ia entender. Ele levantou e - É CLARO! - aproveitou pra iniciar a conversa engraçada mais uma vez com os outros dois, enquanto esperava que eu me sentasse. Eu peguei o Barthes que me aguardava na bolsa, "thankyou", virei pra Juju e, baixinho, mandei um "Skavuska!" Pronto! Daí em diante, a cada vez que um dos três falava alguma coisa, a gente rebatia com um "na Sibéria não tem nada disso!" Rimos pra caramba.
O que me incomoda é que até agora não sei por que eles estavam rindo tanto... Vai ver que o comercial da NET de lá tem uma musiquinha que diz "Em São Paulo não tem nada disso"... Vai saber...
Assim que o avião decolou, eu percebi que havia deixado meu livro na bolsa e teria de incomodar o gringo de novo, mas ele já roncava. O russo mais velho estava no banco de trás e lia o "El Clarín". O da frente parecia ser mais novo e também roncava. Alguns minutos depois, começaram a servir comidinhas e a "azafata" chegou pra ele e perguntou em inglês "chicken or pasta?" Imediatamente ele olhou pro russo da retaguarda e falou qualquer coisa ininteligível que, traduzida, devia soar como "que aeromoça gostosa" porque o russo da frente começou a rir, depois o outro e por fim ele mesmo caiu na gargalhada. A pobre ficou ali com aquela carinha de kolynos esperando uma resposta e ele rindo. Eu já estava irritadíssima, tentando entender por que os caras riam tanto, quando ele, delicadamente, apontou pro frango. A moça serviu e se mandou rapidamente.
Depois que comemos, eu resolvi pegar o meu livro e mandei um "excuseme" já me levantando, pra garantir que ele ia entender. Ele levantou e - É CLARO! - aproveitou pra iniciar a conversa engraçada mais uma vez com os outros dois, enquanto esperava que eu me sentasse. Eu peguei o Barthes que me aguardava na bolsa, "thankyou", virei pra Juju e, baixinho, mandei um "Skavuska!" Pronto! Daí em diante, a cada vez que um dos três falava alguma coisa, a gente rebatia com um "na Sibéria não tem nada disso!" Rimos pra caramba.
O que me incomoda é que até agora não sei por que eles estavam rindo tanto... Vai ver que o comercial da NET de lá tem uma musiquinha que diz "Em São Paulo não tem nada disso"... Vai saber...
28 de jul. de 2008
Malba - Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires
27 de jul. de 2008
Cementerio de la Recoleta
A Recoleta é um bairro lindo. Há uma praça com um Centro Cultural que apresenta obras de jovens artistas, um Centro de Design e uma feirinha aos fins de semana. Há também a Igreja de N.Sra del Pilar, que abriga um museu lindíssimo e o Cemitério da Recoleta.
Ninguém visita cemitério na sua cidade, mas quando se viaja pro país dos outros, surge uma vontade de fazer coisas estranhas, como ver as construções, analisar a arquitetura, observar os resquícios de uma burguesia que não existe mais, sei lá. O que eu sei é que estávamos por ali mesmo e resolvemos visitar. É simplesmente lindo! Os túmulos são majestosos, magnânimos, magníficos, o que mais??? É dificil elogiar um túmulo e eu não entendo nada de arquitetura, mas tudo é muito bonito mesmo.
É claro que se forma fila para ver o túmulo da Evita Peron (família Duarte), mas há outros lindíssimos, como o mausoléu dos soldados mortos na Guerra do Paraguay (!!!), por exemplo.
Bem, o que dá um medo danado é que os caixões ficam expostos, assim mesmo, na cara do visitante, e não escondidos como aqui. É estranhérrimo, você vai caminhando e dá uma olhadinha pelo vidro - e há túmulos inteirinhos de vidro - e dá de cara com um caixão. Há janelas quebradas por toda parte e o morto fica praticamente ao alcance da sua mão. Assustador, mas imperdível!!!
Avda.Junin, 1790.
26 de jul. de 2008
Biblioteca Nacional
Inauguramos a viagem com uma visita à Biblioteca Nacional da Argentina. Quem me conhece há muito tempo, sabe que eu era muito "BG" (vulgo "poncho e conga") na década de 80. Enquanto meus amigos ouviam a música dos "imperialistas americanos", eu passava horas e mais horas aprendendo espanhol com o povo do Raíces de América, do Tarancón e, claro, com a argentina Mercedes Sosa. Era a música latino-americana de protesto, que emanava sonhos de liberdade naquele tempo em que ainda vivíamos sob a ditadura militar.
Pois bem, chegamos à Biblioteca Nacional e, logo na entrada, um pôster gigantesco do Atahualpa Yupanqui que, à primeira vista pode parecer um ilustre desconhecido, mas é nada menos que o compositor da canção "Los Hermanos", grande hino da luta latino-americana contra as ditaduras. Fiquei ali, parada e alucinada, quase sem acreditar no que estava vendo. Além de manuscritos, livros e mais livros, artigos de jornal, videos de entrevista, havia muitos objetos que pertenceram a ele, seu violão e.... seu poncho!!!!
Avda. Agüero 2502.
Quem não conhece essa canção, veja a apresentação da Mercedes Sosa em seu show aqui no Via Funchal que eu, imperdoavelmente, perdi.
Pois bem, chegamos à Biblioteca Nacional e, logo na entrada, um pôster gigantesco do Atahualpa Yupanqui que, à primeira vista pode parecer um ilustre desconhecido, mas é nada menos que o compositor da canção "Los Hermanos", grande hino da luta latino-americana contra as ditaduras. Fiquei ali, parada e alucinada, quase sem acreditar no que estava vendo. Além de manuscritos, livros e mais livros, artigos de jornal, videos de entrevista, havia muitos objetos que pertenceram a ele, seu violão e.... seu poncho!!!!
Avda. Agüero 2502.
Quem não conhece essa canção, veja a apresentação da Mercedes Sosa em seu show aqui no Via Funchal que eu, imperdoavelmente, perdi.
Cuadernos de un turista en Buenos Aires
Estive viajando. Vida de professor é assim mesmo, viaja-se na alta temporada, gasta-se mais, aumenta-se o limite do cartão de crédito pra poder comprar a passagem, depois volta e sai procurando mais e mais trampos pra poder pagar os "regalitos" que trouxe na mala, mas, enfim... fazer o quê? É assim que é assim!
Pois bem, passei uma semana na Argentina e há algumas coisas muito legais pra contar. Espero que, nos próximos dias, a falta absoluta de tempo não seja assim tããããão absoluta e que a preguiça me dê um descanso pra eu poder contar uma ou outra sensação que trouxe comigo das terras portenhas.
¡Hasta la vista!
Pois bem, passei uma semana na Argentina e há algumas coisas muito legais pra contar. Espero que, nos próximos dias, a falta absoluta de tempo não seja assim tããããão absoluta e que a preguiça me dê um descanso pra eu poder contar uma ou outra sensação que trouxe comigo das terras portenhas.
¡Hasta la vista!
17 de jun. de 2008
Hein?
Ontem recebi um e-mail que começava assim:
"Colégio Confessional Católico, situado na região central de São Paulo, procura profissional ...."
Colégio Confessional Católico... nem imagino o que isso quer dizer...
"Colégio Confessional Católico, situado na região central de São Paulo, procura profissional ...."
Colégio Confessional Católico... nem imagino o que isso quer dizer...
11 de jun. de 2008
Derramadas palavras
Cruzou, naquele dia, a soleira da porta pela última vez. Sem perceber, saiu deixando pegadas no vermelho que agora marcaria para sempre o piso do corredor. Não lhe caberia, sequer, saber que aquela ferida jamais cicatrizaria. Ao sair do prédio, entregou-se à amarga sensação de perda que o acompanharia em cada semáforo ultrapassado, em cada dia amanhecido, em cada cigarro que amarelasse um pouco mais a ponta de seus dedos. Era, agora, apenas mais um naquela história de amores, rompantes, paixões, frenesis.
Na manhã seguinte, o gosto do nome ainda teimava em lhe queimar garganta, língua, palato mole. "Nada que uma boa dose não cicatrize", diziam-lhe. No entanto, o riso, o gesto, o movimento frenético – embora delicado – de mãos. Olhos suplicando um afeto que ele não conseguiu dar, palavras e poesia a lhe cortar continuamente a pele da memória: sobras empilhadas, bem ali, na sua frente. Quantas vezes leu, releu cada uma daquelas frases em busca de compreensão? Quantas vezes percorreu cada período por um resto tênue de poesia? Quantas, tantas.
Ao lado da mesa, o triturador de papéis recém comprado. Relutou - mas fez, ainda que soubesse que bastaria um retrato, um cinema, uma canção, uma maldita rima para lhe sangrar a ferida em contínuas e patéticas gotas de derramadas palavras.
Na manhã seguinte, o gosto do nome ainda teimava em lhe queimar garganta, língua, palato mole. "Nada que uma boa dose não cicatrize", diziam-lhe. No entanto, o riso, o gesto, o movimento frenético – embora delicado – de mãos. Olhos suplicando um afeto que ele não conseguiu dar, palavras e poesia a lhe cortar continuamente a pele da memória: sobras empilhadas, bem ali, na sua frente. Quantas vezes leu, releu cada uma daquelas frases em busca de compreensão? Quantas vezes percorreu cada período por um resto tênue de poesia? Quantas, tantas.
Ao lado da mesa, o triturador de papéis recém comprado. Relutou - mas fez, ainda que soubesse que bastaria um retrato, um cinema, uma canção, uma maldita rima para lhe sangrar a ferida em contínuas e patéticas gotas de derramadas palavras.
4 de jun. de 2008
Calcanhoto
(Quem disse que não há mais poesia na música brasileira?)
Teu nome mais secreto
Adriana Calcanhotto / Waly Salomão
Só eu sei teu nome mais secreto
Só eu penetro em tua noite escura
Cavo e extraio estrelas nuas
De tuas constelações cruas
Abre-te Sésamo! - brado ladrão de Bagdá
Só meu sangue sabe tua seiva e senha
E irriga as margens cegas
De tuas elétricas ribeiras,
Sendas de tuas grutas ignotas
Não sei, não sei mais nada.
Só sei que canto de sede dos teus lábios
Não sei, não sei mais nada.
Teu nome mais secreto
Adriana Calcanhotto / Waly Salomão
Só eu sei teu nome mais secreto
Só eu penetro em tua noite escura
Cavo e extraio estrelas nuas
De tuas constelações cruas
Abre-te Sésamo! - brado ladrão de Bagdá
Só meu sangue sabe tua seiva e senha
E irriga as margens cegas
De tuas elétricas ribeiras,
Sendas de tuas grutas ignotas
Não sei, não sei mais nada.
Só sei que canto de sede dos teus lábios
Não sei, não sei mais nada.
19 de mai. de 2008
16 de mai. de 2008
Cor-de-rosa
Inda tenho aquele batom claro que você me deu. Vez em quando passo, e - exceto pelos olhos - fico com a mesma cara opaca da bofetada que deixei de te dar.
3 de mai. de 2008
Amar é...
Um dia desses eu vi uma colega no Orkut e descobri que ela havia se casado. Entrei na página dela, dei os parabéns, depois ela me agradeceu e hoje recebi um convite para adicionar como novo amigo "Sr e Sra Fulano de tal", duas pessoas num mesmo perfil identificado por um sobrenome que eu não conhecia. Quando entrei pra ver quem era, apareceu a seguinte mensagem: "Oi, agora que casei, estou estou deletando o meu perfil do Orkut, pois vamos ficar só com o do 'fulano'. Nos adicione, tá? Beijos".
Fiquei pensando aqui com meus botões que antigamente havia uma expressão horrorosa, mas meio comum, que dizia que "fulano e fulana juntaram as escovas de dentes". Apesar de juntas no mesmo porta escovas (ou no mesmo copo, arghhhh!), imagino que cada um continuava tendo a sua, não?
Morar na mesma casa, dormir na mesma cama, dividir o cobertor, a televisão, o banheiro, o chuveiro... Até ter o mesmo computador, vá lá, mas precisa ter um perfil só? Vai ver que eles juntaram até o e-mail, vai saber... É assim que é isso mesmo? Será que eu tô louca? Imaginava que casamento hoje não implicasse mais em perder a identidade, o espaço, em transformar-se "num só"... Fiquei pensando como teria sido o pedido de casamento:
- Amor... quero te fazer um pedido...
- Mesmo?!
- É... Acho que já tá na hora... Você quer juntar seu Orkut com o meu?!!
- Jura? Ai, querido, tudo o que eu queria da minha vida era juntar meu Orkut com o seu... Jura mesmo que quer ter o mesmo perfil que eu até o fim de nossas vidas?
- Juro... Faz tempo que eu venho querendo ter um Orkut só com você, mas não sabia como pedir... sei lá... acho que eu ia morrer se você quisesse continuar assim, cada um com um perfil diferente...
- Nunca, meu amor!!!! O que eu mais quero nessa vida é ter uma página só pra nós dois, gostar das mesmas coisas que você, ter os mesmos amigos, as mesmas comunidades, receber as mesmas mensagens com vírus, os mesmos spams pornográficos... Ai, ai, quanta felicidade...
28 de mar. de 2008
Festa estranha com gente esquisita
Ontem fui ao show da Bethânia com a Omara Portuondo. Festa estranha com gente esquisita... A Bethânia puxava a cubana pra trás o tempo todo e a cubana tentava empurrar a baiana pra frente. Sem bateria, os 3 percussionistas (Marcelo Costa, Andrés Coayo, Claudinho Brito) não deram conta do recado. Faltou sangue e suingue caribenhos pra acompanhar aquela velhinha elétrica de 76 anos. Resultado: um som individual maravilhoso, vozes lindíssimas que não combinavam uma com a outra e um grande vazio sonoro por trás, apesar da qualidade inegável de todos os músicos... Dureza!
E por falar em festa estranha com gente esquisita, outro dia fui ao aniversário de um amigo e saí de lá com uma sensação esquisitérrima. Não sei se porque eu ia muito à casa dele antigamente e depois parei, não sei se porque eu não conhecia ninguém direito, não sei se o povo que estava lá era esquisito mesmo, não sei se porque não bebi... Sei lá, vai ver que a esquisita sou eu.
26 de mar. de 2008
Enquanto isso, numa farmácia da China....
18 de mar. de 2008
17 de mar. de 2008
Meia hora de sono
Hoje descobri um caminho novo pra ir pro meu trabalho. Acho que economizo uns 15 minutos, mas vou testar de novo um outro dia dessa semana. Quem sabe consigo voltar a acordar na faixa das 6h e não das 5h... Ninguém merece levantar às 5h30 da madrugada, gente, tem dias que está um super breu!!!
Meus alunos vão agradecer, pois meia hora a mais de sono vai fazer muuuuita diferença no meu humor matinal....
(Como tá difícil viver em São Paulo!!!)
12 de mar. de 2008
A cantora careca
Estou sem voz. Totalmente sem voz. E sem vontade... Acho que é gripe, mas parou na garganta e não progrediu pro resto do corpo, deixando aquela sensação horrível de leseira interminável. Talvez tenha trocado o ataque físico pelo psicológico e me deixado com essa languidez toda... Talvez a leseira corporal ainda venha, sei lá. O que é um saco é que estou totalmente sem voz, difícil até pra falar no telefone. Tudo bem que já faz tempo que deixei de ser cantora, mas me incomoda muito não conseguir cantarolar com Paulinho da Viola no rádio do meu carro.
Amanhã tenho 6 aulas na 7ª série, "tipos de predicado"...
Iemanjá me guie!
7 de mar. de 2008
Férias já
Ai, gente, tô precisando de férias.... De manhã, além de 5 sétimas séries, dou aula pra uma oitava e uma sexta. Às tardes, noites, sábados, domingos e feriados, faço revisão de textos. Dissertações, TCCs, monografias, artigos e por aí afora. Pois bem, o preço da revisão é X reais a lauda. Se a pessoa quiser, posso colocar no formato da ABNT e aí vai pra X+1. Esses dias fiz a revisão da dissertação de mestrado de uma moça super gente boa, toda ferrada lá com a orientadora dela, aquelas correrias de fim de mestrado. Ela queria que eu formatasse o texto dela e, por engano, acho que "dedei" errado e mandei o preço de X+2, ao invés de X+1. Fiz o trabalho e mandei a conta, cobrando X+1 a lauda, claro, pois era o preço. Ela, toda gentil, me mandou um e-mail dizendo que o preço combinado não havia sido aquele, mas X+2. A louca aqui entendeu que ela estava achando caro (porque eu sei que pesa na hora de pagar, é muito gasto com xerox, encadernação, enfim!) e mandei um e-mail todo malcriado, dizendo que o preço era esse mesmo, mas que eu sabia que estava caro e então ia cobrar só X, ao invés de X+1. Quando eu dei o "Enviar", achei que tinha alguma coisa esquisita... Se ela estava achando caro, por que me dizia que o preço era X+2? Resolvi olhar o e-mail inicial e vi que havia mandado o valor maior mesmo e ela - coitada - só queria me dizer que eu estava fazendo a conta errada e ia tomar prejuízo. Ai, que vergonha... Agora diz aí: por que é que não dá pra "desmandar" um e-mail imediatamente depois que você clicou no enviar? O resultado é que não vou ter cara pra receber o valor correto da pobre mestranda que só queria ser educada comigo...
E a propósito de "Férias já", alguém aí tem uma receita mágica pra dar aula pra sétima série sem microfone?
E a propósito de "Férias já", alguém aí tem uma receita mágica pra dar aula pra sétima série sem microfone?
29 de fev. de 2008
Chega de Plástico!!!
Pois é, a preocupação com o planeta saiu dos discursos dos ecologistas e veio parar na ação e nas práticas conscientes. Hoje, quase todo mundo que eu conheço recicla suas latinhas, jornais e embalagens pet, ou pelo menos sabe da importância de tentar diminuir o lixo do planeta. Uma outra ação consciente que vem ganhando corpo é a diminuição do uso das sacolinhas plásticas de supermercado. Desde a racionalização da quantidade que a gente leva pra casa - por que eu não posso colocar o shampu e o sabão em pó no mesmo saquinho da lata de molho de tomate? - até o uso de sacolas não descartáveis, toda ação é extremamente bem-vinda. E a indústria da moda que o diga! Toda griffe que se preza já tem a sua sacola de supermercado.
A Fuzuê, ateliê campineiro de arte em tecido, também criou suas sacolas, juntanto design, arte e texto, mas pra isso criou um concurso em seu Blog, com o objetivo de eleger as melhores frases pra estampar nas sacolas. O resultado disso é que esta blogueira que vos fala foi uma das três vencedoras do concurso da Fuzuê.
Essas belíssimas, ecológicas e funcionais sacolas podem ser vistas nesse fim de semana na 12ª Craft Design, no Terraço Daslu.
É mole?????? Semana da Moda de Milão, here we go!!!!
20 de fev. de 2008
Cinema redescoberto
No século passado, quando ainda estudava Filosofia, saía da FFLCH e ia até um ponto de ônibus que ficava bem em frente à Fac.de Educação pra pegar carona. Quando dava sorte de aparecer alguém indo pra Paulista, eu ia ao cinema. Sozinha. Descia perto da Consolação e ia até o Belas Artes. Ou então, vinha andando pela avenida, sentido Brigadeiro, até o prédio da Gazeta, e ia ao Cine Gazeta (era assim que se chamava antes de virar Reserva Cultural). Eu adorava ir ao cinema sozinha, desfrutar de um prazer que era só meu. Depois, não sei exatamente o porquê, resolvi que não gostava mais de ir ao cinema sozinha e, como nem sempre se tem uma companhia a fim de assistir ao mesmo filme que você (no mesmo horário e no mesmo lugar), minhas idas diminuíram bastante.
Passei, então, a ir sempre acompanhada, e acabei descobrindo companhias ótimas, outras nem tanto, algumas mais ou menos. Descobri a companhia profissional: aquele amigo com quem você se encontra só pra ir ao cinema (e é ótimo!); a companhia chata: aquele que, por algum motivo, não gostou do filme e fica reclamando o tempo todo, dizendo que preferia ter ido ao “filmetal”. Descobri a companhia perfeita: o que se emociona pelo mesmo motivo que você, que entende o filme do mesmo jeito que você, que discute aquela cena legal, que é capaz de falar horas e horas sobre o filme, depois, num café. Descobri que nem todo amigo é boa companhia pra cinema e que há amigos “Hollywood”, amigos “Woody Allen” e amigos “Godard”. Descobri que eu devo ser uma péssima companhia, pois tenho a mania horrível de ficar fazendo previsões sobre a próxima cena, um saco, enfim.
Essa semana redescobri o prazer de ir ao cinema sozinha. Havia muito tempo que não fazia isso, sabe? Abri o Guia da Folha como quem não quer nada e lá estava: “Meu nome não é Johnny”, Market Place, 13h50. Olhei no relógio, 13h20, pensei: dá tempo. Fazia um tempão que eu queria assistir a esse filme e nunca dava certo de alguém ir comigo. Fui.
Fui e lavei a minha alma. Primeiro porque eu A-DO-RO o Selton Melo, sou fã de carteirinha, daquelas que são capazes de dar vexame quando, por acaso, encontram o cara em algum lugar; segundo porque é impossível ser mãe e não se emocionar em algum momento assistindo àquele filme; terceiro porque redescobri que é possivel, sim, ir ao cinema sozinha. Ainda que eu não seja a companhia perfeita.
Passei, então, a ir sempre acompanhada, e acabei descobrindo companhias ótimas, outras nem tanto, algumas mais ou menos. Descobri a companhia profissional: aquele amigo com quem você se encontra só pra ir ao cinema (e é ótimo!); a companhia chata: aquele que, por algum motivo, não gostou do filme e fica reclamando o tempo todo, dizendo que preferia ter ido ao “filmetal”. Descobri a companhia perfeita: o que se emociona pelo mesmo motivo que você, que entende o filme do mesmo jeito que você, que discute aquela cena legal, que é capaz de falar horas e horas sobre o filme, depois, num café. Descobri que nem todo amigo é boa companhia pra cinema e que há amigos “Hollywood”, amigos “Woody Allen” e amigos “Godard”. Descobri que eu devo ser uma péssima companhia, pois tenho a mania horrível de ficar fazendo previsões sobre a próxima cena, um saco, enfim.
Essa semana redescobri o prazer de ir ao cinema sozinha. Havia muito tempo que não fazia isso, sabe? Abri o Guia da Folha como quem não quer nada e lá estava: “Meu nome não é Johnny”, Market Place, 13h50. Olhei no relógio, 13h20, pensei: dá tempo. Fazia um tempão que eu queria assistir a esse filme e nunca dava certo de alguém ir comigo. Fui.
Fui e lavei a minha alma. Primeiro porque eu A-DO-RO o Selton Melo, sou fã de carteirinha, daquelas que são capazes de dar vexame quando, por acaso, encontram o cara em algum lugar; segundo porque é impossível ser mãe e não se emocionar em algum momento assistindo àquele filme; terceiro porque redescobri que é possivel, sim, ir ao cinema sozinha. Ainda que eu não seja a companhia perfeita.
19 de fev. de 2008
All Star
Quando terminei o curso de Letras, estava resolvida a dar aula em faculdades, pra adultos. Dizia que trabalhar com crianças não era pra mim, que tinha de ser no mínimo no Ensino Médio. Depois entrei no Mestrado firme e forte na minha convicção de não dar aula pra crianças. Hoje eu brinco que sou a rainha da 7ª série, pois todo lugar em que penso em trabalhar, me chama pra dar aula pra 7ª série (ou 8º ano). Sina... Karma.... Sei lá, vai ver é porque eu adoro All Star e descobri que eles também. É incrível como todas as vezes em que resolvo aparecer numa escola calçando meu velho e preto All Star, algum aluno sempre sai com algo assim: "Nossa, professora! Que legal!! Você usa All Star!!"
Da primeira vez em que aconteceu, eu não liguei. Estava fazendo estágio num colégio de freiras e pensei que era porque lá as professoras se vestiam de maneira muito séria. Depois, já num colégio totalmente descolado, a mesma coisa: "Caraca!!! A professora usa All Star!!!" O tempo passa, a escola muda, e de vez quando algum aluno ressuscita a mesma surpresa.
Ontem de manhã, um japa todo bonitinho e CDF (outro colégio, nem de freira, nem tão descolado) me solta, num tom de absoluta cumplicidade:
- Professora, você é mó legal, super descolada!
- Por quê? - respondi, debaixo de meu guarda-pó branco.
- Ué... É que além de ter óculos da TNG, cabelo vermelho e anel no dedão, você também usa All Star!
Sorri. Ah, menino.... - pensei cá com meus botões - e você ainda nem viu as tatuagens....
Quer saber? Dar aula pra criança é mó legal!
9 de fev. de 2008
Cala a boca, Francisco!
Quando a tua mulher ficou grávida do Otávio Augusto você disse que não era teu e eu acreditei. Depois o menino foi crescendo e até aquela pinta que você tem perto do queixo, ele tem igual. Sabe o que você é? Um covarde! E esse filho agora, não é teu também? Cala a boca, Francisco, que paciência tem limite e o meu limite chegou. Essa vaca ta grávida de novo e você vai me dizer que o filho não é teu? Vai, fica com ela, fica de uma vez com a tua mulher que eu vou cuidar da minha vida... Faz 10 anos que todo dia você diz que vai largar a Madalena. Dez anos que eu aturo toalha molhada em cima da minha cama, xícara de café com bituca de cigarro, dez anos que eu abaixo a tampa da privada depois que você sai do banheiro. Faz dez malditos anos que eu não saio com outro homem, que eu não sei o que é uma boa trepada. Cala a boca, Francisco! Ela nunca te disse que você trepa mal? Pois você é muito ruim de cama!!! Eu finjo que gozo porque te amo. Finjo! Eu gemo cada vez que você sobe em cima de mim, pra parecer que eu tô gostando, mas transar com você é frustrante! E a Efigênia deve achar a mesma coisa! É, pensa que eu não sei da Efigênia? Cala a boca, Francisco, que eu quero falar! Vai dizer que é mentira? Todo mundo comenta da Efigênia! Dez anos de dedicação exclusiva e você me enganando com aquela biscate de cabelo vermelho! Você não me merece! Tua mulher, ainda vá lá, é tua mulher, casou com você, mas botar cifre na amante? E com a ex mulher do meu próprio irmão? Quer me desmoralizar, Francisco? Eu, que passei 1/3 da minha vida plantada em casa assistindo “Tela Quente” no sábado à noite?! Eu, que tô com a bunda quadrada de tanto “Domingão do Faustão”? Eu que agüentei teu pinto pequeno a vida inteira? Cala a boca, Francisco, cala a boca e vai embora de uma vez! E antes de sair, volta lá naquele maldito banheiro e abaixa a porra da tampa da privada!
28 de jan. de 2008
From hell
Um dia, me chamaram de “mulher diaba”. É claro que a alcunha tinha todo um contexto que não vem ao caso agora. O caso, em si, é que achei isso péssimo naquela ocasião, no início fiquei mal, “como é que podem falar isso de mim?!” – pensava. Com o passar do tempo – e as mudanças desse mesmo contexto – fui achando engraçado, fazendo troça com o codinome, avermelhando mais e mais meus cabelos vermelhos de “mulher diaba”. Depois, tudo mudou (mais uma vez o tal contexto), tingi os cabelos de castanho (“pra esfriar a cabeça”, dizia eu àquela época) e deixei de ser a “mulher diaba” (não porque mudei a cor do cabelo, mas por todo aquele contexto que mudava de novo e coisa e tal).
Hoje, meus cabelos estão novamente vermelhos, ninguém mais me chama pela alcunha em questão, mas não é legal saber ter sido, um dia, na cabeça de alguém, uma mulher diaba de verdade? Tridente poderoso, rabo enorme, chifres dos bons, gargalhada from hell tipo Ana Carolina e aquele fogo do inferno queimando ao redor da minha cabeça? Adorei me lembrar disso....
Hoje, meus cabelos estão novamente vermelhos, ninguém mais me chama pela alcunha em questão, mas não é legal saber ter sido, um dia, na cabeça de alguém, uma mulher diaba de verdade? Tridente poderoso, rabo enorme, chifres dos bons, gargalhada from hell tipo Ana Carolina e aquele fogo do inferno queimando ao redor da minha cabeça? Adorei me lembrar disso....
24 de jan. de 2008
Como faca
Acordou com gosto de sangue na boca.
Quis mover-se, mas estava inerte, pesado; braços e pernas não obedeciam aos comandos cerebrais, ainda que pensasse com vigor nos movimentos. Quando tentou falar, nada ouviu, além do total e irremediável silêncio circundante. Estava morto. Sim, estava morto, pensava, embora o silêncio da voz e a imobilidade do corpo não impedissem o gosto do sangue que lhe escorria do canto da boca.
Fechou os olhos – ou imaginou que fechasse – e tentou lembrar do que havia acontecido na noite anterior: antes das onze, sentiu uma leve tontura; deitou-se no sofá e adormeceu; teve uma noite agitada, se mexeu muito, mas sonhou com o futuro. De alguma maneira, se sentia mais livre e podia sonhar. Depois disso, nada mais. Acordou com gosto de sangue na boca.
Abriu e fechou os olhos novamente, tentou, em vão, mais uma vez, se mover. Teve a sensação de estar com o pescoço molhado e quente. Pensava em voltar a dormir e se livrar do sonho ruim, quando viu claramente a imagem da mulher chorando calada, enquanto ele vertia palavras impregnadas de dor e rancor. Lembrou-se, então, de tudo o que antecedeu à tontura: a tristeza, a dor da moça, o gosto amargo da mágoa, o adeus sem jeito, apressado e, acima de tudo, o som gutural de sua voz ao proferir aquelas palavras.
Já se haviam cortado antes disso. Já se haviam ferido, maltratado, mas ele nunca dissera nada tão fortemente cruel, capaz de destruir a alma de alguém. Nunca dissera algo tão cortante, que lhe deixasse a boca em sangue. Foi, então, que se sentiu agonizante e se arrependeu.
Não quis dizer aquilo, de verdade, não pensava daquela maneira; estava magoado e acabou libertando suas piores palavras, aquelas que se escondiam no canto mais escuro de seu vocabulário. Chegou mesmo a duvidar se as havia dito, mas já era tarde: ambos estavam mortalmente feridos.
A palavra rebenta, quando proferida – e aquelas, como faca, lhe haviam cortado língua, boca, garganta, esôfago, estômago, intestinos. Tudo a seu redor era, agora, silêncio e sangue a escorrer quente e viscoso do canto de sua boca, tingindo de vermelho o forro claro do sofá da sala.
(velhos textos, quando fora do contexto, são uma delícia de se ler.)
Quis mover-se, mas estava inerte, pesado; braços e pernas não obedeciam aos comandos cerebrais, ainda que pensasse com vigor nos movimentos. Quando tentou falar, nada ouviu, além do total e irremediável silêncio circundante. Estava morto. Sim, estava morto, pensava, embora o silêncio da voz e a imobilidade do corpo não impedissem o gosto do sangue que lhe escorria do canto da boca.
Fechou os olhos – ou imaginou que fechasse – e tentou lembrar do que havia acontecido na noite anterior: antes das onze, sentiu uma leve tontura; deitou-se no sofá e adormeceu; teve uma noite agitada, se mexeu muito, mas sonhou com o futuro. De alguma maneira, se sentia mais livre e podia sonhar. Depois disso, nada mais. Acordou com gosto de sangue na boca.
Abriu e fechou os olhos novamente, tentou, em vão, mais uma vez, se mover. Teve a sensação de estar com o pescoço molhado e quente. Pensava em voltar a dormir e se livrar do sonho ruim, quando viu claramente a imagem da mulher chorando calada, enquanto ele vertia palavras impregnadas de dor e rancor. Lembrou-se, então, de tudo o que antecedeu à tontura: a tristeza, a dor da moça, o gosto amargo da mágoa, o adeus sem jeito, apressado e, acima de tudo, o som gutural de sua voz ao proferir aquelas palavras.
Já se haviam cortado antes disso. Já se haviam ferido, maltratado, mas ele nunca dissera nada tão fortemente cruel, capaz de destruir a alma de alguém. Nunca dissera algo tão cortante, que lhe deixasse a boca em sangue. Foi, então, que se sentiu agonizante e se arrependeu.
Não quis dizer aquilo, de verdade, não pensava daquela maneira; estava magoado e acabou libertando suas piores palavras, aquelas que se escondiam no canto mais escuro de seu vocabulário. Chegou mesmo a duvidar se as havia dito, mas já era tarde: ambos estavam mortalmente feridos.
A palavra rebenta, quando proferida – e aquelas, como faca, lhe haviam cortado língua, boca, garganta, esôfago, estômago, intestinos. Tudo a seu redor era, agora, silêncio e sangue a escorrer quente e viscoso do canto de sua boca, tingindo de vermelho o forro claro do sofá da sala.
(velhos textos, quando fora do contexto, são uma delícia de se ler.)
12 de jan. de 2008
O MELHOR DA MPB 2007 - 3
"Nosso sonho Se perdeu no fio da vida
E eu vou embora sem mais feridas, sem despedidas
Eu quero ver o mar, eu quero ver o mar
Se voltar desejos ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música, música
Se lembrar dos tempos, dos nossos momentos
Lembre da nossa música, música
Nossas juras de amor já desbotadas
Nossos beijos de outrora foram guardados
Nosso mais belo plano desperdiçado
Nossa graça e vontade derretem na chuva
(...)
Um costume de nós fica agarrado
As lembranças, os cheiros dilacerados
Nossa bela história está no passado
O amor que me tinhas era pouco e se acabou..."
Música (Liminha / Vanessa da Mata)
Tudo bem, não é de 2007, mas tocava toda hora e é - muito - linda.
E eu vou embora sem mais feridas, sem despedidas
Eu quero ver o mar, eu quero ver o mar
Se voltar desejos ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música, música
Se lembrar dos tempos, dos nossos momentos
Lembre da nossa música, música
Nossas juras de amor já desbotadas
Nossos beijos de outrora foram guardados
Nosso mais belo plano desperdiçado
Nossa graça e vontade derretem na chuva
(...)
Um costume de nós fica agarrado
As lembranças, os cheiros dilacerados
Nossa bela história está no passado
O amor que me tinhas era pouco e se acabou..."
Música (Liminha / Vanessa da Mata)
Tudo bem, não é de 2007, mas tocava toda hora e é - muito - linda.
7 de jan. de 2008
O MELHOR DA MPB 2007 - 2
"Nas ruas de outono
Os meus passos vão ficar
E todo abandono que eu sentia vai passar
As folhas pelo chão
Que um dia o vento vai levar
Meus olhos só verão que tudo poderá mudar
Eu voltei por entre as flores da estrada
Pra dizer que sem você não há mais nada
Quero ter você bem mais que perto
Com você eu sinto o céu aberto
Daria pra escrever um livro
Se eu fosse contar
Tudo que passei antes de te encontrar
Pego sua mão e peço pra me escutar
Seu olhar me diz que você quer me acompanhar..."
Ruas de Outono (Ana Carolina/ Antonio Villeroy)
Daria pra escrever um livro mesmo...
Os meus passos vão ficar
E todo abandono que eu sentia vai passar
As folhas pelo chão
Que um dia o vento vai levar
Meus olhos só verão que tudo poderá mudar
Eu voltei por entre as flores da estrada
Pra dizer que sem você não há mais nada
Quero ter você bem mais que perto
Com você eu sinto o céu aberto
Daria pra escrever um livro
Se eu fosse contar
Tudo que passei antes de te encontrar
Pego sua mão e peço pra me escutar
Seu olhar me diz que você quer me acompanhar..."
Ruas de Outono (Ana Carolina/ Antonio Villeroy)
Daria pra escrever um livro mesmo...
4 de jan. de 2008
O MELHOR DA MPB 2007 - 1
E como nem só de pior vive a nossa música, vamos tentar elencar aqui as 10+ de 2007. Na verdade, não importa muito se a canção é mesmo de 2007, mas se a ouvimos no rádio no ano passado. Aqui vai a primeira, na minha opinião uma das mais bonitas letras que ouvi nos últimos tempos. Dê seu voto!
"Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraíso se mudou para lá
Por cima das casas, cal
Frutos em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonhos semeando o mundo real
Toda gente cabe lá
Palestina, Shangri-lá
Vem andar e voa, vem andar e voa
Vem andar e voa
Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar
Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção
Tem um verdadeiro amor
Para quando você for"
Vilarejo (Marisa Monte, Pedro Baby, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes)
"Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraíso se mudou para lá
Por cima das casas, cal
Frutos em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonhos semeando o mundo real
Toda gente cabe lá
Palestina, Shangri-lá
Vem andar e voa, vem andar e voa
Vem andar e voa
Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar
Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção
Tem um verdadeiro amor
Para quando você for"
Vilarejo (Marisa Monte, Pedro Baby, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes)
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