16 de out. de 2008

Dia do professor


Ontem foi o dia do professor e enviei um email para alguns professores queridos com um trecho lindíssimo retirado do "Aula", do Barthes, em que ele diz assim:
"Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se sabe: isso se chama pesquisar. Vem talvez agora a idade de uma outra experiência, a de desaprender, de deixar trabalhar o remanejamento imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentãção dos saberes, das culturas, das crenças que atravessamos. Essa experiência tem, creio eu, um nome ilustre e fora de moda, que ousarei tomar aqui sem complexo, na própria encruzilhada de sua etimologia: Sapientia: nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria, e o máximo de sabor possível".
Recebi várias respostas e uma, particularmente, me tocou muito, pois veio de uma mestra por quem tenho um enorme respeito. Ela terminou dizendo "você é uma professora". E eu achei isso um elogio tão bonito...
Tenho tentado realmente me tornar uma professora desde que deixei de ser bancária. É uma tarefa às vezes bastante difícil, principalmente porque eu não tenho mais 20 anos, mas eu adoro. É claro que há momentos em que você quer sumir do mapa, mas eles passam. No início desse ano, por exemplo, aceitei trabalhar numa escola que me pareceu bem legal, mas aos poucos foi se revelando um tormento. Diretor e orientador pedagógico passando em frente à sua sala de aula e perguntando umas 5 vezes por dia "tudo bem aí?" era pouco. Era só falar alguma coisa diferente com um aluno que eu já sabia que no dia seguinte ia "dar salinha". Às segundas-feiras eu tinha uma aula vaga e era batata! "Lina, compareça à minha sala, por favor... O aluno fulano de tal disse que você deu uma nota baixa pra ele, podemos conversar?" E lá se ia a aula vaga toda com as minhas justificativas. No primeiro semestre ainda deu pra levar, mas a volta das férias de julho tornou-se um martírio. Tudo o que eu falava ou fazia era motivo pra reunião. Em contrapartida, nos encontros com a coordenadora de Português tudo parecia normal: "Não dê atenção", "Mantenha a calma...", "Você está certa, é isso mesmo...", "Seu trabalho está ótimo...".
Um belo dia, eu chego pra ela e digo que vou pedir demissão. "Não faça isso, estamos no meio do ano, teremos problemas pra encontrar outra pessoa agora..." Eu digo que não tem problema, fico até que encontrem essa outra pessoa e ela responde "mas isso será péssimo para seu currículo". Marinheira de quase primeira viagem, decido ouvir, então, a voz da experiência e ficar. Dez dias depois, com a graça de Deus, eles me mandam embora.
Sem entender direito, me pergunto: "que diabos foi isso, se eu pedi demissão outro dia e eles não aceitaram?"
Melhor assim. Ética profissional a gente não encontra mesmo em qualquer material didático, por mais bonita que possa parecer a capa.
Agora que já se passou algum tempo, eu me lembro das palavras da coordenadora (de que meu trabalho era ótimo, isso ia sujar meu currículo, blá, blá, blá...) e, parafraseando uma amiga, pergunto: "e quem disse pra você que eu vou colocar essa escola horrorosa no meu currículo?"

6 de out. de 2008

Mais um verão

Gosto muito desse moço. E de suas canções, claro. Sempre gostei. Houve uma época em que não tinha dinheiro pra comprar seus discos e ficava correndo os sebos do centro da cidade atrás de um LP usado. Era um tempo de pouca grana, mas de muitos sonhos e eu sabia de cor todas as suas canções que me levavam pra um lugar distante, que eu nem sabia direito onde era, mas preenchia meu desejo de uma vida longe de São Paulo.
Sábado fui assistir a seu show no Credicard Hall e pude relembrar desse tempo em que, entre outras coisas, eu tinha tempo pra cantar e até pra me arriscar a compor algumas canções que falavam de terra, mato e esperança de um dia sumir daqui. Eu tinha, então, 20 anos, todo o tempo do mundo e sabia quem eu era e o que eu queria. É claro que não saí de São Paulo, casei, separei, parei de cantar, me atolei no trabalho e me esqueci de tudo aquilo, inclusive de que eu gostava tanto desse moço. E de suas canções, claro.
Saí do show desse caboclo lindo (que agora usa óculos) sob chuva forte, com 2 CDs que eu ainda não tinha e que a Juju me deu, e determinada a não passar mais um verão sem me lembrar de todas essas coisas de que, de verdade, tanto gosto.

Essa canção (que na gravação original tem a belíssima 2ª voz de Alzira Espíndola) ele não cantou, mas eu adoro.

Mais um verão
Já lá se vai a sumir
Por entre os dedos da minha mão
E nada guardei pra mim

E a geração
Que a tudo fez consumir
Volta a temer profecias
De astros em conjunção
Será que chegou o fim?

Por moedas de ouro e prata
Quanta gente ainda se mata, ai, ai
Eta velho mundo louco
Quer se destruir
Aconteça pois assim

Mais um verão
E só me resta fingir
Ir ao castelo da ilusão
Sonhando ser Aladim

Poder então
Por tudo me repartir
Ser como as folhas de outono
Num vento sem direção
Dormir em qualquer jardim

Aflição nem vou mais sentir
Se o segredo é se divertir, ai, ai
Eta velho mundo louco
Não quer mais sorrir
Entristeça, pois, enfim

Mais um verão
Já lá se vai a sumir
Por entre os dedos da minha mão
E nada guardei pra mim
(Mais um verão - Almir Sater e Paulo Simões)