9 de dez. de 2008

Encontro

Bar Brahma, 19h15, terça-feira. Um convite pra beber com uma amiga, e descubro a possibilidade de um ícone. Não que eu seja uma fã propriamente dita, mas confesso que a curiosidade sempre me fez desejar assistir a um de seus shows. Um showman, um crooner brilhante, um ícone: palavra que se encaixa perfeitamente àquele a que vou assistir esta noite.
Enquanto espero minha amiga, o pianista toca Beatles, uma escolha fantasticamente apropriada, já que foi essa amiga - fã incondicional dos meninos de Liverpool - quem me apresentou aos ingleses nos idos dos 80.
Ansiedade. Eu costumava brincar que não podia morrer sem assistir a um show do Cauby Peixoto. Podem dizer o que quiserem, que é brega, que está ultrapassado, que sua peruca e seu terno de strass vermelho são ridículos. Tudo se transforma em pó quando o niteroiense (adjetivo horrível!) abre a boca e solta sua voz de timbre grave e aveludado.
Eu ficava imaginando “onde esse homem canta? Provavelmente no Rio...” Cheguei a imaginar um programa de fim-de-semana, avião, hotel, show no Canecão, hotel, avião... mas não foi possível. O tempo passou e hoje estou aqui, à espera. É estranho pensar que planejei este encontro em dois diferentes momentos de minha vida e não deu certo... Sozinha, espero pelo ídolo. Não importa. Talvez esse deva ser um instante só meu mesmo, meu e do Cauby, sem fotos, sem registros, sem testemunhas. Apenas um antigo desejo que insistiu em não ir embora.
Silêncio no piano, palmas. Ele toma o espetáculo e eu me calo para ouvi-lo.

(texto antigo... ando arrumando gavetas...)

1 de dez. de 2008

Delonga

Às vezes sinto saudades da escrita. Acariciar palavras, embaralhá-las, sentir nas mãos sua textura. Noutras, sinto saudades do tempo, seu contar de horas caminhando lentas, delongadas uma após a outra. Há vezes, ainda, em que sinto saudades de uma areia viscosa e densa a tocar-me os pés e roçar-me o corpo, trazida grão a grão pelo vento quente. Saudades de ler Rimbaud e, boêmio, ter com ele. Versos de amor infinito a invadir a alma.
Emaranhada em novelos de palavras, me desfaço tempo, areia, saudade.