30 de jul. de 2009
Fotografia
No canto da boca, o riso incompleto de alguém que ainda não disse tudo. Estranhou vê-la, assim, congelada numa tela de computador... Tudo, então, ressurgiu vívido e quente em sua memória: o olhar desconfiado, sem entrega, de quem sempre temeu o pior, a urgência de vida pulsando nos seus pequenos gestos incompletos, as impossibilidades, os caminhos sem convergência. Sob a transparência da blusa branca, relembra contornos ainda não esquecidos e, secretamente, afaga-lhe a pele, a boca, os olhos e, por fim, envolve-se em suas delicadas mãos, como tantas vezes o fez, sobre aquele mesmo fundo azul em que escreveram suas incompreensíveis histórias de amor.
28 de jul. de 2009
27 de jul. de 2009
Julinas (2)
Julinas (1)
Eu vivo a vida a vida inteira
A descobrir o que é o amor
Leve pulsar do sol a me queimar
Não penso ter a vida inteira
Pra guiar meu coração
Eu sei que a vida é passageira
E o amor que eu tenho não!
Quero ofertar
A minha outra face à dor
Deixa eu sonhar com a tua outra face, amor
(Fogueiras: Música - Angela Rô Rô; Foto - Yanaí Mendes)
Dio come ti a mo
Estou numa fase "filme antigo" e a Turkha me manda uma cena dessas... O amor é lindo mesmo...
26 de jul. de 2009
Intertexto
(colagem de fragmentos de Luvas de Pelica - Ana C. e Vidas Secas - G. Ramos, 2004)
Longe, na planície avermelhada, os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Não estou conseguindo explicar minha ternura, entende? Tínhamos caminhado o dia inteiro, estávamos cansados e famintos. Sei que não nasci para cigana e tenho o chamado “olho com pecados”, mas já fazia horas que procurávamos uma sombra. A folhagem dos juazeiros aparecia longe e através dos galhos pelados da caatinga rala, parecia que a viagem progredira três léguas. No fundo isso não é um livro, eu sei, sou eu, sou eu sombrio, cambaio, condenado do diabo, sou eu que você segura e sou eu que te seguro! Caio das páginas nos teus braços, teus dedos me entorpecem, teu hálito, teu pulso... Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se, estávamos no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e também deserto. Repousado na areia do rio seco, eu mergulho dos pés à cabeça, delícia, mas agora chega!. Agora chega de saudade, segredo, impromptu, chega de passado passando em vídeo-tape impossivelmente veloz, repeat, repeat, quero o presente deslizando sobre essas plantas mortas.
Sei que não sou rato de biblioteca, não entendo quase aquele museu da praça, não tenho embalo de produção e você não lembra minhas palavras uma a uma. Sei que nos arrastamos para lá, devagar, que estivemos juntos e sozinhos. Mas depois sossegamos, deitamos, fechamos os olhos... Agora repouso minhas cartas e traduções de muitas origens, me espera uma esfera mais real que a sonhada, MAIS DIRETA, o negrume dos urubus à minha volta...
Adeus! Toma esse beijo só para você e não me esquece, mas eu poderei voltar. Te amo, ainda assim, parto. Opto pelo olhar estetizante, com epígrafe de mulher moderna desconhecida, qual bainha de faca de ponta. Enquanto isso, você tenta forçar a porta, incorpóreo, triunfante, morto.
24 de jul. de 2009
Menino triste
Não há nada no mundo que possa explicar o fato de um menino de 19 anos dar um tiro na boca. Ainda que a tristeza seja tanta, que a dor tenha alcançado os limites do insuportável, ainda que toda a força que você conseguiu juntar tenha se transformado na mais pura vontade de morrer, juro que não consigo entender o fato de um garoto que eu vi criança tramar a própria morte e, ali mesmo, no seu quarto de menino, consumar o seu desejo de ir embora desse mundo de um jeito tão horrível, sem se despedir de ninguém.
E nós, que nem sabíamos que você era um menino assim tão triste, restamos, com o coração despedaçado de tristeza, pedindo pros nossos santos de fé pra que você, finalmente, tenha chegado a um lugar mais colorido.
18 de jul. de 2009
17 de jul. de 2009
14 de jul. de 2009
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